Aqui, a quem interessar possa - meus queridos alunos de audiovisual e cinema desse semestre e muitos de meus ex-acadêmicos de tantos outros semestres - o endereço de minha conta no youtube. Lá: trailers, clássicos imperdíveis, programas de TV, pocket movies, cenas antológicas...
http://www.youtube.com/user/verboiconico

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O FilmE

http://www.youtube.com/watch?v=6wyj1V-aKVc


"Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, adaptação do livro de José Saramago é muito mais que uma crônica pessimista sobre a sociedade contemporânea, num mundo de colapsos iminenentes. É um espetáculo, uma aula de cinema.E da melhor qualidade.


A obra trata de uma inédita, repentina, inexplicável e incurável praga, a cegueira branca - as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa - que abate uma cidade qualquer, uma nação, o planeta. Á medida que os afetados são colocados em quarentena e"esquecidos" por um estado despreparado, as pessoas passam a lutar pelas necessidade mais básicas de sobrevivência, expondo as pulsões mais primárias e uma crueldade assustadora. O filme ilustra o desmoronar completo da sociedade que, por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considera civilizado, racional e comedido, tal como acontece, de certa forma, em "A Peste", de Albert Camus.

Embora a obra seja um drama que ambienta imagéticamente de forma soberba todo o caos e o colapso urbano, uma alegoria sobre os caminhos que a sociedade contemporânea vem trilhando, este é um filme, ainda, de gentilezas, de afeto e compaixão - que insinua que apenas ao perder a capacidade de pré-julgar é que os ser humano pode,realmente, ser capaz de ver. É uma ode sobre a nossa inaptidão de entender que dependemos, profundamente uns dos outros como mostra tão singelamente a cena de profundo abandono dos repentinamente cegos, obrigados a confiar - inteira e absolutamente - nos estranhos que caminham nas ruas, nos outros, naqueles que ainda há pouco eram o "inferno", mas que agora são a única possibilidade.

A obra de Saramago e de Meirelles é inesquecível porque traz na reflexão o fato de que olhos saudáveis não nos livram da cegueira: a que vê etnia, orientação sexual, cor da pele, idade, sexo, grau de instrução ou ascensão social, diferenças suficientes, para muitos, semearem a intorlerância, mas que de nada servem em um momento de caos.

POr fim, uma última informação. Saramago, Nobel de literatura, durante anos, se negou a vender os direitos do filme, pois para ele a trama seria “infilmável”. Aqui a reação dele ao ver a obra de Fernando Meirelles pela primeira vez:

http://www.youtube.com/watch?v=6wyj1V-aKVc

Percepções de apoio à leitura da obra


- Observem a fotografia: meticulosa, detalhista, atenciosa. Na superexposição do filme, nas poucas variações de tom - todas dessaturadas. A jornada pelas inquietantes composições fotográficas assimétricas, na fragmentação de imagens refletidas em espelhos e vidros. Na câmera oscilante, no foco incerto. Como uma fotografia pode ser tão sensível, sutil, doce e tão brutal?

- Ótimo elenco, liderado por Julianne Moore (a Mulher do Médico) e Mark Ruffalo (o Médico). Atores afinados na tentativa de humanizar personagens, nos advertindo que ali - lá - não havia monstros, apenas pessoas e limites. Além disso, os personagens não têm nome, sendo identificados apenas por profissões (o Médico, o Contador), por relações de parentesco (a Mulher do Médico) ou por características estéticas (o Estrábico). Ou seja: mais ou menos como, comumente, as pessoas costumam definir uns aos outros.
-Como as cenas de multidão cega lembram filmes de mortos-vivos, outra alegoria sobre a sociedade contemporânea.

- Em como o diretor ilustra, sutilmente, com apoio da narrativa, mas principalmente da fotografia, que a supressão do sentido da visão faz a humanidade exigir dos outros sentidos.

- Como a trilha sonora causa desconforto profundo. É ótima ao acompanhar o desespero de ambos, a luta pela sobrevivência, como, por exemplo, na cena do supermercado.

- A beleza do momento da chuva: a metáfora. Belo...belo... E o impacto do retorno: a imensidão de espaços vazios - São Paulo e Montividéu - e a sensação de tudo por fazer.
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Imagens para se refletir na semana do Dia Internacional da Mulher.

Eu acredito e sempre acreditei que frases como

"O principe pediu Cinderella em casamento.";
"Quando ela viu o principe se apaixonou por ele...";
"E ela montou no cavalo branco do príncipe..."
"...E viveram felizes para sempre..." ;

estão entre as mais funestas da literatura porque:

a) dizem que a felicidade das mulheres esta "no outro", no parceiro (a), em pertencer, e não em ser;
b) A mulher não age. Alguém age por ela;
c) Prometem eternidade quando é vã a maturidade;
d) Fazem da mulher algo frágil, débil, e cá para nós, latinas, insosso
e) Também não são justas com o tal príncipe...mas não estou muito interessadas nas questões da "masculinidade". (me desculpem aqueles e aquelas que estudam as "masculinidades", mas são as mulheres que continuam apanhando por, basicamente, possuir uma cratera, um canyon, onde deveria haver a auto-estima...)


Sempre acreditei que, na verdade, éramos todos envenenados pelos contos de fada, como disse, Anaïs Nin.

E Hollywood também não fez diferente. Como sempre digo em aula: "os filmes hollywoodianos terminam onde realmente começa a vida, o embaraço..."

No entanto, sempre me choca como as mulheres contemporâneas ainda não se desvencilharam dessas questões e de como é fácil, não importa o nível de ascenção social, a cor, a etnia, a orientação sexual... Como é fácil ver a mulher dando a própria dignidade de presente para quem não consegue, e não me importa se é doença ou não, dar o que é mínimo, respeito, mas sim tapa e bofetão? Como é fácil ver mulheres buscando amor, onde somente há uma relação de poder.





E como a imagem da cantora Rihanna espancada pelo namorado - e novamente ao lado dele depois de "reatar" a agonia - me fala disso tudo, uma vez mais...


Absurdo da semana do dia internacional da mulher

"Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente.A imprensa italiana publicou, nesta sexta, reportagens afirmando que o Vaticano apóia a decisão do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar os envolvidos na interrupção da gravidez de uma menina de 9 anos."

Sem comentários porque as palavras que possue, guardadas para essa gente, somente fariam aumentar meu karma, além de me trazer péssima energia...

* Não coloquei direto os clips do youtube porque o site não está deixando.Sei lá o que deu nele...